quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Made in China (ou Ruídos espantosos de uma comunicação perfeita)

De gafes na internet, eu tenho um histórico condenável (a penúltima, por exemplo, foi mandar o link desse blog de amenidades e inutilezas anexado a um email formal, por esquecer de desativar a função assinatura do meu email, que eu ativara naquele dia apenas por teste, mas que já tratei de deletar defenitivamente...) e o msn foi o pivô de muitas delas. Mas, afinal, quem nunca, no meio do atabalhoamento das milhares de luzes laranjas a piscar em uníssono nas horas de pico, não meteu a conversa para um amigo na janela do outro e coisa e tal? Normal, né? O espantoso é quando as pessoas perfeitamente se entendem...

Minha falta de destreza com essa ferramenta começou há muitos anos, e desde a mais básica das etapas: a inclusão de novos contatos. Logo que comecei a usar o msn, aprendi na prática que basta uma letrinha errada e pimba!, o convite não contrariará as leis da física; ele jamais se desintegrará no espaço; ele entrará com tudo pela janela de alguém que nunca vimos e de cuja existência jamais tomaríamos ciência senão por esta forma...

Eu, por exemplo, tenho um amigo internauta cuja cara ao vivo eu nunca vi e cujo processo de admissão no msn se deu mais ou menos assim. Ao adicionar uma pessoa no msn, apenas troquei o yahoo.mx pelo hotmail.com do email através do qual nos comunicávamos e, instantes depois, devidamente aceita, descobri que o meu amigo mexicano estudante de engenharia eletrônica transmutara-se na figura de um jazzista finlandês residente nos Estados Unidos e cuja carreira já havia sido agraciada com um Grammy... No intuito de manter contanto com o meu amigo, acabei fazendo uma nova amizade, meio atribulada pelo meu inglês tosco e pelo espanhol sofrível dele, fruto unicamente daqueles livros de frases feitas que nos legaram pérolas da incomunicação.

Por questões de fuso (o meu amigo mexicano mudou-se para a China) e de tempo, o contato com essas duas criaturas foi se tornando cada dia mais escasso, de modo que chegamos a passar meses sem trocarmos uma palavra.

Ontem, entrei no msn e, para a minha surpresa, o meu amigo mexicano estava lá. Comecei a conversar com ele em espanhol, obviamente. Perguntei como andava a vida na China, ao que ele respondeu que já não estava na China, e sim em Valencia, mas morando em Barcelona, mas que a China era bem melhor e coisa e tal. Ostentava no linguajar um trejeito bem distinto, já contaminado pelo espanhol peninsular (Venga! Vale! E por aí adiante...). Eu dizendo que tinha muita vontade de voltar ao México, e ele replicando “qué maravilla!”...

A conversa foi curtíssima, porque ele estava atrasado para um compromisso. Nos despedimos sob a promessa de que logo nos escreveríamos para contar as novidades.

Antes de desligar o pc, fui fechar as janelas abertas do msn uma a uma e, puts, me dei conta de que eu não falava com o meu amigo mexicano, e sim com o jazzista finlandês. Que confusão!

Pensei inicialmente em passar um email desculpando-me pelo mal-entendido, afinal, ele poderia pensar que eu estava tirando onda com a cara dele. Imagina, chegar para alguém com quem não se fala há muito tempo e perguntar de cara como vai a vida na China, como se a China fosse ali em Caruaru... Depois, fiquei arretada! Pensei que era ele quem estava tirando onda com a minha cara; ora, a gente só se falava em inglês e, se agora eu dizia coisas sem pé nem cabeça ainda mais em espanhol era porque aquela mensagem não era para ele, e ainda assim ele tratou de dar continuidade àquela conversa descabida...

Antes de desligar o pc, resolvi entrar na página dele na internet, que há muito eu não visitava, para ver o paradeiro daquela criatura no meio da Espanha, com o espanhol já à altura para tirar onda com a minha cara, dizendo coisas como "Espanha que nada! Na China é que é bom!" Eu agüento?

Para o meu espanto, assim que a página se abre, dou de cara com dezenas de fotos dele em turnê adivinha onde? Onde? Onde? Isso! Bingo! Na China! Na Chi-na! Na Chiiina! Na China, como se a China fosse ali em Caruaru. Ele prontamente engalanado, entre auditórios lotados, autoridades e shows beneficentes e eu aqui, boquiaberta, pas-sa-da...

Pensei em escrever para ele contando essa história, mas fiquei com receio de que ele achasse veementemente que eu estava tirando onda com a cara dele; porque, enfim, se me contassem, eu não acreditaria... Resignei-me, então, a escrever-lhe um email contando as novidades, sem mais delongas ou explicações.

Bom, depois dessa, não tenho dúvidas, os chineses fazem de tudo. Fabricam até coincidências que só Borges explica (e em que ninguém acredita!), e com uma perfeição de dar inveja aos eletroeletrônicos, que logo se estropiam. Através de ruídos espantosos, ontem nos proporcionaram uma comunicação perfeita. Acredite se quiser.

8 comentários:

Ina disse...

Todo mundo passa por esse tipo de coisa se usar o msn. Já fiz convite para um suposto amigo e até hoje não faço idéia de quem é a criatura que acabou me presenteando com insultos e chatice. Já falei com gente que entrou em msn de amigo que esqueceu aberto em lan house e no final das contas eu que me dei mal.
Ruído!!
Todo mundo tem alguma história...não fica constrangida que a tua acabou bem :)
besos

Conrado Falbo disse...

Há! Quem quiser que acredite nesse negócio supostamente chamado de 'coincidência'! A vida real é inacreditável, amiga.
Besos

Me disse...

Ah, também acho! E sabe que mais, tenho me pego a pensar se esses dois xarás não se toparam ao menos de viés pelas ruas de Beijing... imagina, perguntar as horas, ou alguma informação, ou sentar num mesmo banco no ônibus, ou de praça, coisas assim... não duvido. É essa "pequenez" do mundo o faz incrivelmente gigante.
Beijo pra tu, Tonton.

Brenno disse...

Borges diria que, dado um tempo infinito, é muito provável -- não: é certo! -- que ele teria escrito essa história infinitas vezes; e, de cada vez, romperia ela a folha em branco igualmente fantástica, igualmente extraordinária, como essa vida real (bem o disse Conrado) que vivemos tentando conter e disfarçar através das frágeis malhas da ficção.

Anônimo disse...

oi Theresa... tava passando pelo blog de Cristhiano e encontrei o link do teu... xD... menina, adorei o título! minha gafe maior é sair colocando "carinhas" em emails que não devia.. =)...
olha, sucesso para ti!!!!
beijinhos.

Natalia disse...

Vive acontecendo umas hitórias dessas comigo. Descobri que também tenho uma homônima

Me disse...

Bom, chamando-se Natalia, fosse qual fosse o sobrenome, era de se esperar... mas se teu nome fosse Astrogilda ou Genoveva, com um sobrenome daqueles, a coisa seria bem diferente. Seria de ficar assim, ó: :O
:p :p... mas me conta mais dessa história pq, vindo da senhorita, ela promete! bjos!

Me disse...

Oi, Virgínia! Obrigada pela visita! Eu também não dispenso as carinhas nos emails, seja lá pra quem for! Acho que é uma maneira de dar o tom, né? Uma carinha ajuda a remeter no meio das linhas um pouco do nosso estado de espírito! =D
Beijo para vc e sucesso para todos nós!