domingo, 3 de setembro de 2006

Luzir é preciso...

Li cedo. Mérito da minha primeira professora, minha avó. Foi ela quem me ensinou o bê-a-bá dos olhos. Tinha, para isso, material invejável: duas bolas de um azul cintilante que inspiravam amor eterno. Meu curso durou oito anos. Ao final, aprendi que os olhos, todos os pares deles que existem neste mundo, seguem (ou deveriam seguir!) seu destino de estrela: brilham, brilham, até que um dia explodem e tiram as vestes da noite numa rajada só.

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Descobri, aos poucos, que há olhos tais quais estrelas fugazes: um par, que agora reluz na janela defronte, amanhã pode correr mundo em busca de outro canto pra encandear. Olhos assim são da mesma espécie das estrelas natalinas, aquelas que só pedem topo de árvore; em busca do altivo, chegam a preferir o cimo de arbusto a um galho no meio de um carvalho...

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É, é assim. Temos, todos, pequenos sóis a brilhar por pequenas coisas, tornando-as enormes. O ouro é o que vemos ouro. O ouro está onde depositamos ouro. Rajadas, rajadas de ouro podemos distribuir pelo mundo, e devemos. Luzir é preciso. Luzir é preciso; mais que viver, diria. Se para alguns não há o que luzir por perto, pois que corram o mundo qual estrela peregrina. Quem pode lançar luz não deve contentar-se em ser atirador de sombras...

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É, deve ser assim: as estrelas reluzentes valem o heroísmo do mundo. A vida merece coragem, enfrentamento. Mas o ouro, o ouro pesa. Se aquilo que vês brilhante não vale o enfrentamento é porque ainda não foste capaz de dar luz a ouro, ainda não luziste um feixe, só fagulhas, chispas dispersas que se apagam num piscar...


A vida merece ser luzia, porque só uma vida luzia atinge o curso de estrela. Tenhamos olhos faiscantes, a brilhar, brilhar, vestindo a noite: sóis que dourem e despertem o mundo...


Ah, meus olhos luzios, dois brilhantes ordinários, adornos líquidos de sal que almejam um dia chegar a tesouro...

5 comentários:

Anônimo disse...

Theresa querida,

obrigado pelo convite! Foi muito bom voltar à leitura dos seus textos luzios.

Anônimo disse...

Digno de ser relido mais de uma vez!!! Como pode hein mocinha??
Adoooro sempre!
beijo enooorme!

Anônimo disse...

Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night...


Justamente como eu gosto: partindo do particular, da intimidade de um grão de luz, para só então seguir rumo ao brilho mais vasto e mais distante das estrelas. E, ao longo de toda a viagem, a intimidade permanece como nosso guia, uma voz familiar que nos conforta e, com a segurança daqueles que sabem seu caminho, nos conduz ao nosso destino sem que um passo seja dado em vão.

Anônimo disse...

Adorei, faza gente divagar à velocidade da luz...
Parabéns

Anônimo disse...

8*