terça-feira, 9 de maio de 2006

De sinfonias e silêncios...

Houve um tempo em que era mais dada ao silêncio. Hoje, silencio às vezes; e em vezes do às vezes, é de um modo travesso, como se guardasse um segredo bobo de alguém, de qualquer alguém. É passar por alguém na rua e pensar assim: “meu nome é theresa e nem te conto...” coisa de doido...

Mas há silêncios e silêncios, porque tudo fala, mas nada fala igual. Cada falar que cala é um diferente calar que fala, mas que só nós ouvimos. É ato vão querer entrar no silêncio alheio. Eu sou das que mais tenta burlar silêncios, mas cada dia penso que eles se rompem por si sós, e que a melhor maneira de fazer com que eles se rompam é não querer que eles se rompam nem que eles não se rompam; é deixá-los quietos. Mas ainda sabendo disso tento e tento burlar silêncios, logo eu, que tenho tantos... Uns só meus; outros meu e de outra gente; outros de um monte de gente, que entende de um monte de jeito um silêncio que é um só. E tem gente que vai ler isso e vai saber de um silêncio nosso. E eu se voltar a reler isso vou saber dos silêncios só meus...

Hoje eu meio que desaprendi a guardar silêncios; muitos deles, sim. Tem coisa pouca que não sai da boca minha pros ouvidos (ou telas), o resto sai por aí compartilhado, dividido, porque é dividindo que eu consigo me integrar – mosaico de papel ao vento, sempre se integrando e saindo em revoada, a cada sopro angustiado da vida, porque a vida é bonita, mas tem hora que dá medo. Ora e ora penso que falar me engrandece, que falar é um ato de confessar-se ao outro, que libertar silêncios é uma forma de confiança - pequeno pássaro sem gaiola que voa e voa. Mas há silêncios que não carecem de confiança nem de desconfiança. São só silêncios. Esses são os mais respeitosos, se bem que todos eles merecem respeito, eu é que sou chata e curiosa e faladeira muitas vezes (carpideira que chora de verdade e que sente tanta dor)...

Há um outro, o silêncio da memória, a sinfonia que compomos com os dias, com o inesperado - com quem, por onde, quando e sempre até que nunca... silêncio este é o que somos.... O silêncio diz tanto quando cala. O silêncio pode. Nós, mediante ele, podemos. Nós dizemos e desdizemos quando silenciamos. As lembranças quedam e não somem; elas alfombram e se somam ao que somos. Às vezes, o silenciar eterno é a forma mais linda que vemos para contemplá-las. O lindo não se apaga; o lindo queda, o lindo soma.

Há o silencio latente de querer abraçar novos amigos, de querer volver a abraçar os velhos, de querer sentir poder abraçar os mortos. São tantos os mortos que quero. São tantos os vivos que quero sem nunca ter visto; sem haver, com alguns, sequer trocado diretas palavras. O silêncio é tudo isso e tanto. Silêncio da lágrima e do riso que às vezes é tão intenso que se verte em som, às vezes é tão imenso que se verte em grito, às vezes é tão imerso que sequer se verte em lágrimas, só paralisa, paralisa, paralisa o mundo, qual pedra de sal cerrando os nossos olhos assim de grande e dura – cristal que não se dissolve nem se dissipa... e a gente indo sem sair do canto, sem soar o canto, sem contar com nada, nem com a gente, nem com o silêncio que um dia foi da gente e que agora é ruído alheio.

Contar com o silêncio é muito bom. Ficar calado sem que tudo doa tanto ao ponto de paralisar é muito bom, é um choro aliviado – suave sal que desanuvia os olhos. Silenciar desse jeito é muito bom, porque os ecos não devem ser maiores que o silêncio, para que o silêncio seja muito bom e não mais um ruído alheio. A vida vai andando e nunca é tarde. Eco é a prisão; silencio, liberdade. Silencio é som latente dentro do eu que somos. É soma, som, semente, ao sol, ao sol, vibrante: manto e alfombra: luz que pede luz, e nunca véu ou fino fio de sombra...

8 comentários:

Anônimo disse...

Que posso dizer, Queen Mab?

O que posso dizer, digo melhor com a muda leitura que acabei de fazer: um dizer para dentro, introspectiva lâmina atravessando silêncios.

Sobre o que não se pode falar -- já disse alguém que, não lendo teu texto, não sabe o que perdeu -- é melhor calar-se.

Calo-me, então, como quem não precisa dizer mais nada; como quem, respeitoso, prefere a sinfonia sem ruídos e com ela justifica o silêncio.

Natalia disse...

Já disse para tu escrever um livro? Hehehehe.

Alisson da Hora disse...

como dizia o velho tio-avô, Wittgenstein:"Sobre o que não pode se falar, deve-se calar..." e o resto é silêncio...bem...parece que não fui o único a relembrar o menino de Viena...

Anônimo disse...

...e a gente indo sem sair do canto, sem soar o canto, sem contar com nada, nem com a gente, nem com o silêncio que um dia foi da gente e que agora é ruído alheio.
quis destacar um instante teu. fácil: qualquer um. difícil: qual o melhor?
preciso de tempo (como estou lento!) para te ler mais, saber de silêncios e sinfonias.
um beijo.

Roger Jones disse...

você escreve muito bem, Theresa !
e tem um humor delicioso...

Natalia disse...

Ei, finalmente voltei a ecrever...Vê lá. Bjo

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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