segunda-feira, 20 de março de 2006

Pipoca no cinema? Que nada!

Geralmente, nos cinemas de arte, a pipoca só é permitida do lado de fora da sala de exibição. Não há aqueles ruídos chatos de pessoas comendo nem de saquinho sendo amassado. Mas, às vezes, circunstâncias adversas fazem muita gente preferir o ruído da pipoca alheia a outras coisas caso fosse permitido escolher o tipo de incômodo da vez.

Ontem, fui ao cinema pra ver um filme de Fellini e havia um discreto senhor sentado ao meu lado. Guardião de tamanha discrição, se soubesse o que lhe esperava, possivelmente não teria arredado os pés de casa. Passados dez minutos de um filme de mais de duas horas, sua saga teve início. O movimento inspira-expira deu lugar a outro: inspira-espirra. Eram quatro espirros, sucedidos por um pequeno intervalo, ao que vinham mais quatro espirros. Dada a constância e a cadência, a minha atenção até então dispensada ao que Fellini havia feito da obra de Petrônio passou a ser depositada naquele senhor. Comecei a observar a natureza dos espirros. Não tardei a concluir que aqueles espirros não eram de gripe. Mas me perguntava por que eu não sentia nada, se respirávamos a mesma coisa... Para quê?

Os deuses não me entenderam, mas, sim, me ouviram. Não tardou a que me saísse o primeiro, logo, o segundo... me saiu uma sucessão de espirros, mas com uma diferença dos daquele senhor. Enquanto ele inspirava e espirrava, eu inspirava, espirrava e ria. O filme terminou e a minha saga apenas começava: meu palato inchou de tal forma que parei de espirrar, porque não conseguia respirar direito. Restou-me o riso. Não soube mais do senhor. Ou o meu caso foi mais grave ou fomos para emergências diferentes. Passado um dia, minha garganta ainda dói, o palato segue um pouco inchado. Dessa experiência, um grande aprendizado: pipoca no cinema? Que nada! O bom mesmo é corticóide!

6 comentários:

Alisson da Hora disse...

Nossa...já ouvi falar que soluço é um elemento gregário, espirro e corticóide, é a primeira vez...Espero que estejas melhor...por que senão, da próxima vez, leva um bujão de sorine... Já assisti Satyricon, e não me deu, em absoluto, vontade de espirrar...foi de vomitar, mesmo...mas o filme é ótimo, meu estômago é que é um lixozinho...beijinhos...

Anônimo disse...

Imagino que ao concerto do inspira-espirra-ria deva ter se juntado, ao cabo de algum tempo, mais espaçado e já não tão discreto, o suspira do senhor, ao notar que, em meio a risos incontidos, tua espirrituosidade acrescentava a contra-tempo uma outra nota às bizarras orquestrações de Fellini...

:*

Anônimo disse...

Geralmente nao respondo email, e raramente checo o que me mandam. Por motivo nao sei qual, resolvi abrir seu email, ler o conteudo, dai, copiar e colar o endereco em outra pagina e me deparar com o seu talento para escrever. Maravilhoso o que vc escreve. Quando postar mais, manda pra mim. Adorei!!!!


Beijos Haroldo.

Anônimo disse...

Theresa,
que crônica linda.
Só tenho pena de eu não ter ficado com a sua imagem de caleidoscópio pra mim também. Ah, se um anjo tivesse me apontado você na multidão, e avisado: "é ela!"

Anônimo disse...

Li sobre a pipoca.
Só podem ser almas gêmas !!! uauauauuauaa

Morri de rir, ao ler. ai ai ai...
Vc é uma peça rara!!!

Abração.

Anônimo disse...

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