quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Quando morreu Rocinante

Rocinante morreu num dia de agosto, num dia frio e chuvoso de agosto. Jana criou Rocinante durante cinco anos, com todo o amor do mundo, até que um dia uma mensagem anunciara a sua morte. Uma mensagem telegráfica, direta, contundente.

Quando Rocinante morreu, uma nuvem de lágrimas nascera nos olhos de Jana. Uma nuvem de lágrimas espessas e de uma angústia fina, daquelas que surgem sem data prevista para perecer.

Rocinante morreu e levou consigo uma parte de Jana, a parte mais linda de Jana: o brilho nos olhos que o sorriso de Jana, que também sumiu, delicadamente e por todo aquele tempo sustentara. Ladrões, esses mortos, que ao partir sempre nos deixam menores do que somos... Rocinante morreu saudável, robusto, e mortes trágicas aguçam ainda mais as nossas dores, tornando-as gigantescas, aparentemente indeléveis.

Rocinante é morto, mas Jana está viva; atordoada, mas viva. Caminhar sem Rocinante vai ser um sentir-se à própria sorte; à deriva, sem o mais longínquo vislumbrar do porto seguro; vai ser sentir-se menor do que qualquer coisinha bem, mas bem pequenina mesmo... vai ser difícil, quase insuportável; insuportável de um quase morrer, mas só até o dia em que Jana se der conta de que voar sozinha é muito mais confortante do que andar sobre o galope bambo de um rocín, e que neste mundo de rocines há alguns corcéis alados que, quando menos esperamos, nos surpreendem... é quando olhamos para trás e nos damos a grata conta de que toda a dor do mundo valeu a pena...

Rocinante é morto, Jana, mas era apenas, só e apenas, um rocín...

3 comentários:

Anônimo disse...

Teca foi o presente mais bonito q recebi. Te amo amore! Eu tô viva e muito mais forte e menos atordoada do que ontem.
cheiro
jana

Anônimo disse...

Lindo, Teresa! Sou Nilma, amiga de Jana de Salvador e tb fiquei emocionada com o texto. Com certeza, Jana vai superar essa morte. E que venham os corsários...

Anônimo disse...

Rocinonte se foi. Mas deixou sua "Quixote" a cavalgar em suas lembranças numa imaginária Cádiz.