domingo, 29 de janeiro de 2006

Sigo sobre cascalhos que resvalam...

Olho para os livros juntos em três prateleiras e lhes tiro o pó com os olhos. Me pergunto para que dissecá-los. Para que buscar explicações, sentidos, elaborar teorias? Olho para eles como quem busca refúgio; como quem busca a palavra precisa para certa imprecisão, e tal palavra pode, a mesma e sempre outra, ora alargar, ora obstruir. Vejo a cada um, aos lidos, aos esquecidos, aos nunca vistos, aos preferidos, com semelhante sorriso angustiado de dezoito anos atrás, quando teoria da literatura era algo de que eu nunca tinha ouvido falar e livro, um companheiro de hora trás de hora.

Tiro a poeira dos olhos. Devolvo-me, em definitivo, a este prazer. Entre a academia e o vale, prefiro o vale. Teoria da literatura, aos arturianos, aos brenninos. A eles, de acordo, bem entregue! Gênio aliado à retidão. Quem sabe logo não se possa caminhar pela academia onde só por cascalhos se possa resvalar, e não por um ou outro pé. Quem sabe a academia em breve não venha a ser algo além de formadora de discípulos. Prefiro, definitivamente, o vale. Sigo sobre cascalhos que resvalam, mas eles não me derrubam, nem vocês (enguiço seus pés a postos!). Prefiro, senhores técnicos, a poesia.

Um comentário:

Anônimo disse...

O vale, a pena: não é esse, afinal, o caminho de todos aqueles que por aqui de fato seguimos? Precisamos, é claro, para trilhar esse caminho, para enxergá-lo como caminho em comum e fazê-lo valer a pena, de um mapa apenas possível e das solas pisoteadas da esperança.

Que assim seja: caminhamos, todos nós, eu, tu, ele, sobre cascalhos.
Que sejam, porém, os cascalhos que resvalem: a nós, valentes, o vale.