sábado, 27 de agosto de 2005

Os lápis de ponta grossa que me ajudam a contornar...

Tenho tentado contornar a minha vida desde ontem à noite, depois que falei com Tathi. Os amigos são lápis de ponta grossa que nos ajudam a contornar as coisas. Pois é, desde ontem tento contornar a minha vida, traçar limites, dar o contorno mesmo, sabe?, pôr cores e tirar esse ar de cinza e nuvem que por vezes paira. Deixar-me mais ao acaso, mas conseguir traçar metas... tenho que me disciplinar. Não me submeter à rotina, mas me disciplinar. Ontem tomei decisões e espero cumpri-las. Melhor, espero senti-las por meses, até que se findem, até que as conclua. Tenho o hábito de abandonar as coisas, talvez por medo de perdê-las ou por medo de não conseguir realizá-las, por mais que tente à exaustão. Tenho que tentar à exaustão.

Já tenho algumas metas: cortar o inútil dentro da minha casa (hoje vou vasculhar o guarda-roupas e repassar adiante o que não mais tem uso em mim), doar livros, apostilas de vestibular... tenho um calhamaço de papel aqui. Abandono ações, mas não consigo abandonar os objetos, que se entulham aos montes... tenho livros de gramática portuguesa de antes da revisão ortográfica... melhor que virem papel reciclado. Tenho os meus pertences de quando brincava de banco, aos seis anos; tenho o álbum do Chaves (este vai ser difícil de jogar fora), vinis de Chico (também não posso me desfazer deles), do Balão Mágico (impossível tirá-los daqui)...

Nossa, olho pra mim e vejo que tenho problemas. Tinha um monte de bonecas quando criança, mas só brincava com a mesma, e nunca trocava a roupa dela, esperando que se sujasse... nunca se sujou... deve ser uma metáfora da minha vida... não posso esperar que as coisas apodreçam, para que faça mudanças... o cotidiano tem de ser modificado.

Decidido, vou voltar à terapia, vou voltar à academia, vou estudar com afinco pro mestrado, vou estudar outro idioma sob métodos auto-didáticos, porque tenho problemas em cumprir horários fixos (basta-me o do trabalho) e vou tomar 40 miligramas de roacutan diariamente (pela terceira vez... mas dessa irei até o fim, por mais que os meus olhos sequem e os meus lábios estourem)...

E assim vou tentar contornar essa rotina, sem esperar que as coisas apodreçam para dar rumo a elas... e assim vou tentar contornar essa rotina, tentando ver o colorido do dia sem essa catarata que por vezes se fixa aos meus olhos... ano que vem vou pra Londres, se não passar no mestrado... quando estiver por lá, pensarei no que fazer... por enquanto, mãos à obra, vou começar a cortar o inútil, a estudar com afinco e a juntar os trocados... assim vou contornando as coisas, principalmente porque tenho muitos lápis de ponta grossa que me ajudam a escrever com força que tudo pode ser contornado e que os olhos, todos, mesmo os que não vêem, podem enxergar cores muito além do cinza... é só olhar mais ao alto, mais ao longe...

14 comentários:

Me disse...

Rena, brigada por ser minha fiel leitora! Me sinto escritora quando vejo teus comentários, e não a leitora compulsiva de que não passo, ainda, pelo menos. Teus comentários me dão esperança de que os meus anseios, os mais íntimos, são possíveis.
Dói jogar as coisas fora, né? Mas às vezes é necessário mesmo... o que não podemos deixar que se nos escape, nunca, são os sonhos, os anseios. Gestos como este, de parar pra me escrever, são como as colagens do seu guarda-roupa apertado de que bem me lembro: simplicidade que ficará pra sempre, dentro da gente, enquanto haja lembrança. Obrigada por todas as palavras, por cada uma delas...
Cultivemo-nos...

Anônimo disse...

O futuro é resultado de tudo que realizamos agora... se investimos nas coisas agora, mesmo que estas nos façam cansadas, exaustas, podemos posteriormente colher os frutos. Porém não podemos esquecer que é aqui e agora que guardamos os momentos sobre os quais poderemos recordar com carinho e guardamos as pessoas que seguirao conosco nas nossas vidas... Como esses lápis de ponta grossa que contornam nossa vida!!!

Anônimo disse...

Às vezes precisamos partir apenas com uma mala nas mãos. Às vezes a vida tem um tom cinza ou nos parece cinza. Fico feliz quando conseguimos seguir com poucas coisas nas mãos e muita coisa na lembrança e pessoas especiais no coração. Fico feliz quando enxergamos que a vida é feita de cinza, mas também de amarelo, rosa, todas as cores. Você me faz ver tantas cores que rezo sempre para que sua vida seja feita só de tons fortes. Rezo mesmo sabendo que precisamos dos cinza para enxergar os fortes. Esse contraste é que nos guia. Um cheiro Amore!!
Jana

Anônimo disse...

Theresa Bachmann, saudades desde antes e desde já. Por Londres e por Recife. Tomar decisões é sempre bom, até as que nos fazem mal, a princípio (experiência própria, acredite). Mesmo os olhos que não vêem sempre acompanham as pessoas que amam, e é assim que é, agora. Não esqueça que o cinza, às vezes, é a cor da felicidade de alguém. E apenas ele, aparentemente frágil, e aparentemente menor, significa bem mais que todas as cores juntas, e suas todas matizes possíveis.
Bye

Anônimo disse...

Tiger, tiger, burning bright in the forests of the night...

Muitas vezes tenho a impressão de que nossas vidas se compõem de inúmeros instantes que são, cada um, metáforas de nossas vidas. Não apenas a boneca que é - e não é - uma espera; mas também o próprio texto que acabei de ler, e aqueles que ainda não li mas lerei. Não compõem, eles, a seu modo, um livro do desassossego? E Livro do Desassossego - teu livro predileto, talvez -, até que ponto ele fala para ti? Até que ponto fala de ti? São perguntas minhas que, talvez por artifício, ponho em segunda pessoa.

E se cada instante é, ainda que potencialmente, uma metáfora de nossa vida (há aqui, também, uma relação de metonímia que não pode ser ignorada..."to hold infinity in the palm of your hand, and eternity in an hour", para ir com o mesmo poeta com quem comecei o post), se é, dizia, assim, poderemos mesmo falar do "inútil" que devemos cortar? Serão as bonecas, os vinis, e até mesmo "êles", os livros, inúteis? Não falo, é claro, das bonecas, dos vinis, dos livros. Falo do que eles representam. Do que significam. Um retorno a Comala, talvez? E nossa Comala será mesmo, sempre, tão pétrea? Será sempre tão páramo?

Anônimo disse...

ÔÔÔÔÔ Theu...
Acabei de me lembra pq não acesso o seu blog todo santo dia: pq tenho que estar preparada pra isso :)
Falando sério, não canso de dizer como é lindo tudo que vc escreve...
E PARE DE ME FAZER CHORAR!!!
Adoro tu, tatu!!!
Beijos,
Pri

Anônimo disse...

Eu disse lembraR

Anônimo disse...

Sempre lembro, ao enxergar o cinza que está nos olhos de alguém, que esse alguém, por prestar atenção ao cinza, não raro esquece de se encantar com tantas outras cores que lhe são inerentes. Felinas, agateadas, fortes, insípidas ou inodoras, mas que por vezes trazem em sua essência etérea a mais pura tradução de vida...

Anônimo disse...

E sigamos rumo à luz, sem neblina, seja ela colorida ou não...

Anônimo disse...

Feliz Páscoa, querida.
Páscoa?
Sim, Páscoa.

Natalia disse...

"É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar..."

Anônimo disse...

Quis passar por aqui e deixar um ovo, mas acabei encontrando um outro - não tanto ovo quanto pássaro - que não me deixa: Saudade.

Será que voa, esse pássaro? Será que canta?

Me disse...

Se voa, não sei, mas se move. Se canta, não sei, mas ecoa. Movendo e movendo leva pra perto. E o eco é aquele som de vida. Sim, é possível nascer de novo. Sim, é possível nascer disto.

Anônimo disse...

Meus guardados não são muitos...Mas eles me são existência, essencia e significação!