Não sei remar, solfejar, cozinhar, conjugar o verbo adequar, me esquecer do passado, nem perdoar facilmente pelo chocolate roubado. Não sei punir, intervir, imergir, boiar, mergulhar, manejar o compasso. Não sei a tabela periódica, nem as frases, nem nunca soube de fato. De ano? Passei! Como? Boa pergunta... isso é algo que também não sei.
Não sei dizer adeus, sem me doer por dentro. Não sei abandonar direito, nem abrigar direito. Não sei Direito, nem medicina, nem artes. Não sei de morte, nem de Marte, nem de Merlin, nem de lobby, nem de Moby, nem de reggae, nem ao menos sei de rock.
Não sei escrever com a mão esquerda; tocar violão com a direita, nem com a esquerda. Não sei tocar violão, nem violino, nem cuíca, nem reco-reco. Nem sei direito o que é um reco-reco. Não sei a diferença entre pato, ganso e marreco. Não sei por onde anda o eco, nem o Eco.
Não sei desenhar, pintar sem borrar, escarrar sem me engasgar com o catarro. Corto tronxo, penduro tronxo. Escrevo tronxo que nem sempre entendo o que quis dizer. Nem sempre sei o que dizer. Nem sempre sei o que quero dizer. Nem sempre sei o que quero... mas só nem sempre!
Não sei paquerar. Não sei encarar sem rir, nem rir sem chorar; mas sei chorar sem rir e isso é chato... não sei o melhor remédio pra queimadura, nem pra queimação, nem pra assadura, nem pra indigestão. Confundo melhoral com gardenal com flogoral com sonrisal...
Não sei dar conselhos, nem levantar astral. Passo mal ao ver papel molhado. Canto mal. Conto mal. Desconto às vezes. Conto mentiras. Me esqueço delas. Me lasco com isso...
Guardo segredo. Enjôo por nada. Não sei o gosto do acarajé, mas sei que não gosto. Tenho certezas sem provas. Tenho provas de certezas duvidosas. Tenho incertezas.
Não sei botar batom sem espelho, nem com espelho. Não sei dormir de luz acesa. Não sei andar de bicicleta sem a mão no guidão, mas já soube, mas faz tempo que já soube... não sei tomar injeção sem virar a cara. Não sei tomar café sem antes escovar os dentes, nem escovar os dentes sem lavar o rosto, nem lavar o rosto sem passar sabão, nem passar sabão sem que bata nos olhos, nem ficar puta quando isso acontece. E isso sempre acontece, mas eu não me acostumo.
Varro mal. Passo mal. Lavo mal. Forro mal a cama. Meu macarrão gruda, meu arroz gruda. Transformo filé em chã de dentro em questão de poucos segundos e com uma constância que me desencoraja a comer o que faço.
Ando por atalhos. Demoro mais, porque me perco com freqüência, mas me acho sempre, pra me perder de novo...
Busco pelo prumo, mas não o tenho visto pela vizinhança... só acho que, pra encontrá-lo, não interfere saber o que é um reco-reco, nem fazer arroz desgrudado, ou ter a certeza de que o verbo adequar é o mais adequado a ser conjugado. Acho que encontrar o prumo não depende de saber desenhar um círculo com ou sem compasso, nem saber, pelo bico, se o bicho é ganso ou pato, nem se ganso é menos manso do que pato.
Talvez um passo pra alcançar o prumo é saber o que não se sabe; ter as certezas do que não se tem conhecimento, e não dar tanta importância a isso assim...
Não sei bem o que sou, nem o que não sou, mas sei que não sei de um monte de coisa. Não sei se deveria dizer tudo isso, mas sei que tudo isso é verdade e se trata apenas de uma pequenina parte de tudo o que não sei; e que tudo o que não sei não me pesa tanto, para que me incomode de que saibam. Disso, eu tenho certeza!
quinta-feira, 21 de julho de 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
17 comentários:
OOi Theresaa
Liindo esse texto, adorei, é a minha cara, pq eu tb não sei um monte de coisa!!!Principalmente o q eu quero da vida!!
Bjos vou continuar vindo
Não sei se gosto de você pelo que você sabe ou se é pelo que não sabe. Veja como são as coisas: há algum tempo tinha certeza que sabia cada coisa que sentia; hoje, já não sei mais sobre o que eu pensava saber...Adorei muito o texto. Beijo grande no coração.
Poxa!!! Ver tudo isso... Eu fiquei dando risada por eu ter tido a oportunidade de presenciar algumas coisas q tu dissesse. Muito bom mesmo. Quando eu tava lendo, Aline também tava do meu lado, aí eu ficava dizendo pra ela: "pô, isso é verdade hehehehe, isso também é verdade heheheh..." Devo admitir q sobre outras coisas preferi não comentar com ela. Mas isso é o q faz tudo isso ser tão bonito. Um beijão pra tu, visse? Sim. Aline disse q também gostou desse teu post. Té mais.
The, se te serve de consolo acho que todas as coisas q vc não sabe eu também não sei. É muito bom ler seus texto, você SABE escrever!!! Beijos para vc. Tô com saudades.
Theresa, mulher, quanto tempo! Como foi que tu me achaste?
um cheiro e vamos mantendo contato!
Te, é a primeira vez que venho aqui e achei super legal teus textos, me fez relembrar tuas palavras e teu jeito... morri de saudades
vamos nos reencontrar mesmo
um beijao
Fabi
esse eu já li, Baby Bird...só não tinha comentado...ehehehehe
Pior que saber que não se sabe de um monte de coisa é não saber o que fazer com a vida... E isso você parece saber bem!
Sei nada... quisera... uma coisa a mais que não sei: quem é você? Bom, talvez seja inútil, talvez vc não mais visite este post... mas...
Eu sei que te amo.
:)
(será que, desta vez, o sorriso vai ser percebido como é? Porque, você sabe (!), existem sorrisos e sorrisos... e,apesar de você já o ter visto - sim, não é um sorriso inédito -, continua a caber tão pouco e tão mal entre os dois-pontos e o parêntese)
"Espantoso" se escreve assim mesmo, sem vírgulas?
Volto sempre aqui, meu texto favorito.
Se me perguntas por que, eu sei. Sei, mas não digo. É segredo.
Será que vais acrescentá-lo, esse segredo, à lista do monte de coisa que não sabes?
Ou será que já o sabes, e justamente por isso eu não digo?
Não, eu não sei. Mas sei que saberei, porque você sabe que eu me sei curiosa. Sabe por que porque é junto? Porque é ponte. Você me dá o porque, Brenno? Prefiro, de você, pontes, - porque a por quê. Ao menos quando este se sabe, bem sabemos, porquê. Como este: Por que não, Brenno?
Eis um porquê para ti, querida Queen Mab. Porque sim.
Volto sempre aqui, neste texto onde dizes não saber tanta coisa, porque nele te sei.
Em meio a tantos não-sei, apareces, em cada um deles, como és. Não apenas nos fatos, mas principalmente em como são contados.
Não sabes encarar sem rir, querida. E te vejo, agora, a um só tempo, rindo e encarando, os olhos duas linhas ascendentes que simulam e estimulam sorrisos.
Serão os não-sei sempre tão reveladores?
Teu por que não pede um porque sim, querida. Teu porque sim. Nosso porque sim. Sim. Sim.
Porque sim.
:*
Sei lavar, cozinhar, passar, arrumar, organizar, desorganizar o que acabei de organizar
Sei sorrir, sei olhar. Sei sentir, adoecer, chorar (aos borbotões) e sorrir ao mesmo tempo só para alegrar quem me vê chorar ( aos borbotões);
sei contar histórias, sei amar as crianças, os velhos, os negros, as putas, os gays;
sei muita coisa...
Mas minha maior " sabideza" é saber que não sou o que sei
nem o que não sei.
Ser é outra coisa!
E é justamente esta outra coisa a coisa que mais não sei!
Amei esta sua fala!
Você sabe falar de você muito bem!!!
carinho
Só sei que de uma coisa eu sei...
Ótimo.
Postar um comentário