domingo, 5 de junho de 2005

...amizade...

Se foi e levou um pedaço. Levou o pedaço que lhe cabe. Sem esse pedaço que lhe cabe, me sinto mais só, mas segura de que esse pedaço que lhe cabe e que bem levou será zelado, será posto no pescoço para exposição, com orgulho, como a medalha de latão acobreado da primeira competição da infância. Esse pedaço que levou, ainda que de metal ordinário, será polido com o melhor produto para preservar e manter bela a mais burilada prataria. O tem. É seu. Sei que se foi e também me deixou um pedaço. Já me está no pescoço, desde que o descobri como sendo meu, exposto como o colar mais belo que me deram - de graça, em dia ordinário, sem festejos nem comemoração, em semana de só cotidiano.

Não me sinto vazia, me sinto transformada. Algo mudou definitivamente. As mudanças definitivas são de soluçar. É como nascer. Nasço agora, e é um nascer de soluço incontido.

3 comentários:

Natalia disse...
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Anônimo disse...

Muito bom este renascer, assim é a vida, eterno sisifismo.
Beijabrações

Anônimo disse...

Não trazem em si algo de extraordinário as palavras que nunca são por acaso?

Por exemplo, aquelas acerca de favoritos e tios. Palavras que já li ou ouvi de outra vez; de outra boca, talvez; talvez de outros dedos, entre goles de capuccino ou sorrisos-smileys. Palavras que, só agora descubro, não foram soltas ao azar, mas tinham aqui, desde muito, sua morada.

As palavras, assim, não são bolhas ao vento, vazias: adquirem peso, ganham corpo, pássaros canoros desafiando o ar.