quarta-feira, 16 de março de 2005

Habituée do ortopedista...

Deus parece haver-me dado ossos assados, aqueles que se fragmentam a qualquer mordiscada... ou, então, um estado de desengonçagem comparado a um adolescente que sente ter um corpo menor do que deveras tem, e, assim, sai causando pequenas avarias pelas vias por onde passa...

O fato é que, mais uma vez, ali estive... no consultório do meu amigo de todas as horas (literalmente!), o ortopedista... mais um diagnóstico, para alargar meu vasto histórico, composto por uma fratura de clavícula (atropelamento de bicicleta à beira da praia), outra fratura de clavícula (queda ao escalar a grade para chegar mais perto do céu; por pouco não fico por lá) e mais outra fratura de clavícula ao cair da cama no meio da madrugada (sim, sim, foram três, e todas no verão... carnaval rolando e eu enrolada na imposta fantasia de múmia!); uma fissura no dedo mindinho (digitando... me pergunto como confiam o “a”, a letra mais usada do teclado, ao frágil dedo mínimo...) e o deslocamento do indicador (descuido... a mão posicionada em uma caixa de concreto, todos os dedos vieram, exceto ele, que ficou penso, tal ponteiro frouxo de relógio apontando eternamente pro seis...); uma fratura no pé (atropelamento... não, eu não estava no meio da rua... estava sobre a calçada...) e a doloridíssima e derradeira (até o presente segundo) fratura do cóccix (executando uma pirueta, em vez dar uma volta de 360º, fui aos 400º, e, cataplás, bunda no chão... erguer-me novamente, apenas três semanas depois, e a muito custo...)...

O cóccix parece estar conectado com todos os pontos do corpo, exceto com a glândula lacrimal (acho que por pura piedade divina!)... se eu ria, doía; se espirrava, doía; se movia o braço, doía; mas podia chorar à vontade que a dor não vinha, não... Cóccix não devia ser palavra, deveria ser número... mais parece um algarismo romano... espero que não seja presságio de nada, pois me faltariam ossos...

O que me leva ao ortopedista, agora, então? A cervical! Estou com a curvatura da cervical ao contrário... Ossos me movam – replico aos moldes de algum personagem de desenho animado... Salsicha, Scooby ou será Popeye?! Ossos que se movem, ossos que bailam, dor que flui bem dentro dos ombros – ossos assados e músculos de pedra... . Sessões e sessões de fisioterapia, de hidroterapia, de acupuntura; apelo à homeopatia e à alopatia... tudo remedeia, mas nada repara... as circunstâncias parecem brincar comigo... a dor forte era no ombro esquerdo, uma dor de anos... eis que hoje me desperto aliviada; pensei haver passado. E passou, mas em partes... ela passou de um lado pro outro... se deslocou, como se fora, ela própria, um osso a realizar a minha sina de fraturas, fissuras e deslocamentos... segue firme, nas costas, apenas rumou de lado... de petista, ela passou a tucana... o fardo, agora, é maior...*

Que me diz o médico? Reticências na fisioterapia e na hidroterapia... Estou chegando à conclusão de que tudo o que conquistamos morre com a gente, inclusive as dores, os ossos assados e os músculos de pedra... enquanto tenha amigos que me carreguem quando quebre o cóccix, nem me importaria tanto que fora presságio... não, Deus, não é um desejo! Que cóccix seja apenas palavra, e pretérita!

*Escrito antes dos escândalos do mensalão... me dêem um desconto...

6 comentários:

Alisson da Hora disse...

Diga aí garota ossos de cristal!Depois reclama quando os amigos não a abraçam...É Theresa com torcicolo, dor nas costas, dedo mindinho machucado, calor demais...Eheheheh
Estou desesperadamente tentando atualizar o meu blog.http://pontispopuli.blogspot.com
De todo jeito passa lá...
ABRAÇOS DO IRMÃO DE SEMPRE

Anônimo disse...

Um outro comentário anacrônico. Mas não é como ler o jornal de ontem, não. São fatos de outra espécie os que leio. Fatos que apenas em parte ficam no tempo, passados. A outra parte - menos palpável, talvez - é aquela que de algum modo permanece. Lembra das mortes do Quintana? ("Da vez primeira em que me assassinaram / perdi um jeito de sorrir que eu tinha...) Pois é, essas mortes não ocorreram aqui, suponho. É nessa outra espécie de tempo (uma espécie, talvez, de eternidade) que a outra parte, vividamente intangível, dura (regida por lex próprias): num jeito de sorrir, num jeito de narrar, numa observação que já sei característica em uma pessoa que ainda pouco conheço. Como, por exemplo, nesta aqui:

"O cóccix parece estar conectado com todos os pontos do corpo, exceto com a glândula lacrimal (acho que por pura piedade divina!)... se eu ria, doía; se espirrava, doía; se movia o braço, doía; mas podia chorar à vontade que a dor não vinha, não..."

Me disse...

Brenno, talvez você não mais visite este comentário; talvez eu te avise para vê-lo, talvez, provavelmente, certamente, conhecendo-me um pouco. sim, sim, direi... mas eu também te sei algo característico: estranho, muito estranho tu és, Brenno. Enquanto theresa, a que ouve e a que olha, te sinto pouco; meu eu tatiana te enxerga melhor, credite...
E sobre a pessoa que ainda pouco conheces, fiques certo, deves conhecê-la na mesma medida que também a conheço. Você me apresenta a mim, Brenno?

Me disse...

Outra descoberta, estranho não, espantoso... como dito em outro canto em que palavras cabem, você é espantoso, Brenno. Você é filhote de gente? Você é cria de quê? Pode rir, mas achando algo mais que graça. Eu falo sério. Quero ser filhote disso também. É possível nascer de novo? É possível nascer disso?

Anônimo disse...

O espantoso, Queen Mab, está nisto: dar luz aos sonhos e, no mesmo movimento (uma curva no canto direito dos lábios), dá-los, os sonhos, à luz.

É sempre possível nascer de novo. Não ouves, pequena, o primeiro som?

Anônimo disse...

O primeiro som... o primeiro sim.

Há aqui, som e sim, uma rima que escapa aos ouvidos. Rima que é tampouco visual, e nem por isso menos rima.

O primeiro som: o primeiro sim.

Percebes, Queen Mab, a rima? Percebes?